Ray se virou e acendeu a luz do quarto. – Claro Carl – sua voz tinha um timbre imponente e ao mesmo tempo suave – Que tipo de história você quer ouvir? – o menino respondeu como se estivesse esperando a pergunta – Sobre magia tio Ray. O senhor sabe a história de Hally Gotter, o menino bruxo? Ray o fitou por algum tempo e respondeu finalmente. – Então você quer ouvir sobre magia não é Carl? – a pergunta parecia uma apreensão. – Não tio Ray sabe o que é, é que meus amigos, eles falam muitas histórias de Hally Gotter, dos filmes que eles assistiram. – Não, tudo bem Carl, não a nada de errado com Hally Gotter, é uma boa história, mas vou te contar algo que seus amigos não sabem – ele sussurrou – Uma história de magia verdadeira.
– Todo mundo sabe que magia não existe tio Ray – respondeu com uma risada. – Não Carl, eu vou falar pra você da verdadeira magia, não a de Hally Gotter, Hally Gotter é historinha pra boi dormir – deu uma pausa – Vou falar pra você da história de um bruxo de verdade. O bruxo de Siracusa. Você quer ouvir a história? – Quero! – respondeu rapidamente. Ray sentou-se ao seu lado, e com os olhos fechados inspirou como se o ar lhe trouxe-se a história. – Então vamos começar...
Existiu há muito tempo atrás, num lugar bem distante daqui uma cidade chamada Siracusa. Naquela época, não existia armas de fogo, as batalhas eram travadas com espadas, arcos, lanças e coisas desse tipo. Ela ficava de frente para o mar mediterrâneo, e como a maioria das cidades da época, era super fortificada. Muitas da batalhas que ocorriam naquele tempo eram decididas no mar. Naquele tempo não havia avião nem nada parecido, e o mar era o meio de transporte mais rápido em se tratando de guerras. Siracusa também fora projetada pra esperar por tudo isso.
Siracusa era uma das pouquíssimas cidades que vivia em liberdade, quase todas as outras haviam sido conquistadas por Roma. As tropas e fragatas romanas eram o que havia de maior e melhor naquele tempo. Porem nunca conseguiam vencer Siracusa. De um ponto de vista geral, ela não tinha nada a mais que outra cidade de sua época. Uma localização favorecida? Não, na verdade estar perto do mar trazia tantos benefícios como pontos fracos. Ficava muito vulnerável ao sitiamento por exemplo. Mas a cidade tinha um homem. Seu nome fazia os romanos se benzerem de medo. Ele era o bruxo de Siracusa.
Como eu disse, ela não tinha nada de especial como cidade, mas tinha um homem, o bruxo. Seus conhecimentos sobre magia, a verdadeira magia, faziam toda a diferença. Certa vez varias fragatas romanas vieram atacar Siracusa, foi então que o bruxo fez com que as velas das fragatas romanas pegassem fogo, sem sair da cidade, só usando a verdadeira magia, o conhecimento. O que aconteceu foi que ele usou o principio de reflexão do espelho e usou o calor do sol para incendiar as velas romanas. Os romanos, claro, sem entender coisíssima nenhuma, ficaram temerosos, buscavam respostas nas suas crendices e superstições, criaram-se então mitos e lendas sobre o bruxo, enquanto este usou apenas a verdadeira magia, o conhecimento.
– Então quer dizer que os romanos desistiram? – perguntou num tom cadenciado. – Não, os romanos não teriam dominado o mundo antigo se desistissem assim facilmente. Mas sempre que vinham para um combate, o bruxo tinha um de seus truques preparados para eles, e vez por outra foram derrotados, ate que...
– Mas esse bruxo não tinha nome não? – Perguntou com um olhar de desconfiança.
– Sim tinha. Seu nome era Arquimedes. Arquimedes de Siracusa.
– Há. Já ouvi este nome.
– Provavelmente. Arquimedes foi um grande mestre da magia matemática, e da engenharia. Suas descobertas e idéias são usadas amplamente ate hoje. É dele a frase “Dê-me uma alavanca e moverei o mundo” – falou com uma voz comicamente grossa e deu uma gargalhada.
– E ai gostou da história?
– E já acabou. O que aconteceu depois. Não me vem com viveram felizes para sempre.
– É você ta certo. Eu tava te poupando do final, que seria cômico se não fosse trágico...
Siracusa resistiu por muito tempo, viveu em liberdade por muitos anos. Mas nada dura para sempre. Não se sabe ao certo, mas estudiosos acham ter existido um traidor que informou alguns pontos fracos da cidade. Roma montou cerco e quando a fome apertou e eles não tinham mais o que fazer, se entregaram. É nesse final que entra a parte cômica e ao mesmo tempo trágica da historia. O comandante das tropas romanas deu ordens explicitas para encontrar Arquimedes e trazê-lo vivo, pois via o poder do conhecimento deste homem. Arquimedes, já sexagenário estava na praia fazendo uns círculos na areia. Um soldado romano sem saber que se dirigia ao grande bruxo, pediu para que ele o reverenciasse. Arquimedes estava tão absorto em seus pensamentos que nem notou a presença do soldado. Ele bruto como era, decapitou Arquimedes ali mesmo.
Existe ate uma mulher que se interessou pela magia ao ouvir a história da morte de Arquimedes. Ela ficou se perguntando: Como algo é tão fascinante aponto de deixar um homem absorto a este ponto?! Mas esta história fica pra outra noite, se assim você desejar.
– Claro que sim tio Ray.
– Então vá dormir que já esta tarde. Boa noite e procure aprender a verdadeira magia.
– Ta certo tio. Boa noite.
Fechou a porta e foi para a sala assistir TV. Sua mulher estava sentada como se o estivesse esperando.
– Conversaram bastante em amor. – sua mulher perguntou num ar de curiosa.
– Querida você nem imagina. Esse menino ainda vai ser um grande bruxo! – falou orgulhoso.
Ficou sem entender nada.
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